A Cadeia Comarcã de Sintra
A Cadeia Comarcã de Sintra foi inaugurada em 1909. O Projecto é da autoria do arquitecto Adães Bermudes e foi construído no local do antigo cemitério de S. Sebastião, o cemitério Velho junto da estação da CP.
O local da Construção – O Cemitério de S. Sebastião
Em Sintra existiam dois cemitérios de S. Sebastião, o cemitério novo junto da antiga Capela de S. Sebastião localizada nos terrenos onde hoje se encontra a edificio da CMS e o cemitério Velho localizado junto da estação da CP de Sintra, local onde hoje está o posto da GNR e parte do parque de estacionamento.
Este cemitério, o antigo, conforme se pode ver no mapa da Vila de Sintra de 1840, fazia fronteira com a Vila Guedes a oeste, a este com a Quinta das Murtas, a norte com a Quinta de S. Sebastião e a sul com o Arrabalde.
O novo cemitério e a sua capela situava-se nuns terrenos entre a Quinta de S. Sebastião e o Vale da Raposa, parte do local é onde existe o edifício dos Paços do Concelho.
Voltando ao Cemitério, o Velho.
O terreno e grande parte da Vila de Sintra, era proprietário de um grande homem de Sintra, grande benemérito e capitão Mor de Sintra e Colares – Máximo José do Reis.
Sabiam que foi o único presidente da CMS que abdicou do seu ordenado em prol da população?
Frequentemente abonava do seu bolso o magro cofre da Câmara Municipal de Sintra para fazer face a todo o tipo de despesas, nomeadamente de assistência aos expostos.
Foi também um grande proprietário rural e urbano. Possuiu as Quintas dos Pisões, da Alegria e Seteais, o Hotel Lawrence e a Quinta da Penha Longa.
Depois da sua passagem como presidente da Câmara de Sintra, doou um grande terreno em S. Sebastião junto à estrada onde mais tarde se edificaria a cadeia de Sintra em frente da futura estação de caminho de ferro.
As condições precárias em que se continuava a enterrar os mortos no interior da igreja de S. Martinho incomodaram de tal maneira Máximo que desde cedo começou a pensar em doar um dos seus terrenos para cemitério público, onde pudesse construir um jazigo onde descansassem em definitivo os restos mortais.
Conta o coronel o seguinte:
“…dentro deste cemitério foi construída a actual cadeia e naturalmente se um dia cair ou for demolida lá serão encontrados com certeza muitos fragmentos de sepulturas. A cadeia tem um pátio á volta mas ainda ficou um razoável espaço de cemitério em que variados arbustos principalmente eras e silvas têm coberto tudo e emaranhado de tal natureza que tem forçado a cair as diferentes colunas, vasos, lapides, tudo enfim. É um verdadeiro matagal intransitável e perigoso pois a cada passo julgando-se terreno seguro resvala-se por entre cruzes e pirâmides que estão a monte cobertas de mato…”
A Construção da Cadeia Comarcã
A condução dos trabalhos foi entregue ao empreiteiro Liberato Tolentino da Costa que contratou o canteiro João da Silva Pascoal.
Em Março de 1908, três anos depois de apresentado o plano, a obra não se havia ainda iniciado. Isto se deveu a uma grande revolta popular com o local escolhido, várias vezes a população se revoltou e acabaram todos a pancada.
No início do ano de 1909 a cadeia estava já adiantada o suficiente para que o arquitecto fosse chamado a vistoriar o edifício.
Em Junho de 1909 estava já apta a receber os primeiros presos.
1906 – Início das Obras da Cadeia Comarcã no dia 21 de novembro.
1906. O projecto inicial da Cadeia Comarcã de Sintra tinha um orçamento de “oito contos cento e dez mil reis”.
1909 – A inauguração oficial foi no dia 13 junho de 1909 durante as festas da Primavera. Nesse mesmo dia foi inaugurado também o edifício dos Paços do Concelho.
1955 – Obras de remodelação e beneficiação do imóvel da antiga Cadeia de Sintra, procedendo-se ao encerramento dos serviços públicos que funcionavam no piso térreo do mesmo.
1969 – A cadeia comarcã foi desactivada em 1969.
1971 – o Decreto-Lei n.º 265/71, de 18 de Junho (MJ/MOP), estipula uma zona de protecção de 50m em redor do edifício;
1972 – O edifício desocupado desde 1969 passa a pertencer à Legião Portuguesa.
1974 – No dia 26 abril o edifício da Cadeia de Sintra que então albergava o quartel da Legião Portuguesa é ocupado pelo Partido Comunista Português.
1977 / 1978 – Serviu como armazém do Museu de Odrinhas e da Cruz Vermelha Portuguesa. O edifício encontrava-se em muito mal estado, com vários vidros partidos.
1979 – Tentativa por parte da Câmara Municipal de Sintra de transferir os Serviços Municipalizados de Água e Saneamento para as instalações da Cadeia. O Projeto era do Arquiteto Henrique Chicó e Rui Duarte.
A proposta consista na manutenção da fachada principal do edifício, mas o seu corpo deveria ser demolido e modificado por uma estrutura de vidro.
1980 – Março / Abril – A Câmara Municipal de Sintra cede o edifício da Cadeia aos Escoteiros. Inicia-se as mudanças da antiga Sede situada na rua Costa do Castelo para a nova Sede. As mudanças terminaram em meados de Agosto. Era presidente da C.M.S o Dr. José Lopes. Por esses dias é inaugurado o polémico Hotel Tivoli na Vila.
1984 – No dia 10 Agosto a Câmara Municipal de Sintra e os Escoteiros celebram um contrato e o edifício é cedido por um prazo de 50 anos ao Grupo 93 de Sintra. Era presidente da C.M.S. o Dr. Fernando Tavares de Carvalho.
A cedência do mesmo previa uma: “instalação da secretaria, recolha de material de campo e concentração dos filiados.”
Os beneficiários ficam com a responsabilidade pela “conservação interior e exterior das instalações e construção de novas escadas de madeira nos interiores.”
1986 – Remodelação do interior do edifício da antiga Cadeia, com aplicação de azulejos, substituição do pavimento, pinturas, tetos falsos.
1989 – Os Escoteiros de Sintra, com o apoio de outros Grupos de Escoteiros, da Associação para a Defesa do Património de Sintra e da população de Sintra, fizeram resistência activa à investida da Câmara tanto na rua – colocando-se à frente das máquinas – como em Tribunal. O processo foi ganho pelo Grupo.
1990 – A tentativa de alteração do edificado e da sua transferência para os SMAS continua . podem consultar a reportagem realizada pela RTP aqui.
Instalação da linha telefónica no edifício.
2003 – a Portaria n.º 831/2003, de 13 de Agosto anula as zonas de protecção e ónus que afectavam o edifício da cadeia.
O Arquitecto – Arnaldo Redondo Adães Bermudes
Arnaldo Redondo Adães Bermudes nasceu no Porto no dia 1 de Outubro de 1864 , foi arquitecto, professor de arquitectura e político português.
Era formado em arquitectura pela Academia Portuense de Belas Artes e pela École des Beaux-Arts de Paris, tendo sido professor da Escola de Belas Artes de Lisboa.
Foi um destacado republicano , foi senador e presidente interino da Câmara Municipal de Lisboa.
Em Sintra são de sua autoria o edifício dos Paços do Concelho, a antiga Cadeia Comarcã, a Cadeia Penal de Sintra e a antiga Escola Primária de Colares.
Adães Bermudes participou também em projetos de restauro e conservação de emblemáticos monumentos nacionais, como os palácios de Mafra, de Sintra e de Queluz, a igreja do Mosteiro dos Jerónimos e o Museu Nacional de Arte Antiga em Lisboa.
Adães Bermudes, arquiteto, homem de cultura republicano e maçon morreu a 18 de Fevereiro de 1948 na sua Quinta em Paiões, Sintra.
Acabamos por agora, parte da História de – A Cadeia Comarcã de Sintra . Muito ficou por dizer destes homens que tornaram a obra possível, mas isso vai ficar para um outra oportunidade .
O autor deste texto foi orgulhosamente membro da Associação de Escoteiros, agrupamento 93 Sintra desde julho de 1980.